segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Arameus

Foram Tribos nômades da antiguidade que se estabeleceram na fértil região da Mesopotâmia, os arameus exerceram ali importante papel político, e sua língua, o aramaico, difundiu-se por vastos territórios, sendo adotada por outros povos.




Os arameus compunham um conjunto de tribos nômades que, entre os séculos XI e VIII a.C., partiu de um oásis no deserto sírio e instalou-se em Aram, uma extensa região na Síria setentrional. No mesmo período, algumas dessas tribos dominaram grandes áreas da Mesopotâmia. A primeira referência a eles ocorreu em inscrições do rei assírio Tiglate Pileser I, no século XI a.C., que afirmava tê-los combatido em 28 campanhas. No final desse século os arameus fundaram o estado de Bit Adini nos dois lados do rio Eufrates, abaixo da cidade de Carquemish, e ocuparam áreas na Anatólia, na Síria setentrional e na região do Antilíbano, inclusive Damasco. Por volta de 1030 a.C., uma coalizão de arameus da Mesopotâmia atacou Israel, mas foi derrotada pelo rei Davi.

Além de ocupar a Síria, as tribos araméias estenderam-se ao longo do médio e baixo Eufrates, junto ao médio Tigre e, para leste, até a Babilônia, onde um usurpador arameu foi coroado rei. Por volta do século IX toda a área compreendida entre a Babilônia e a costa mediterrânea era dominada pelos membros dessas tribos, mencionados na Bíblia como caldeus, nome de uma delas. A Assíria, praticamente cercada pelos arameus, reagiu sob a liderança de Assurnasirpal II e conseguiu subjugar um dos reinos arameus a oeste.

Em 856 a.C. o rei assírio Salmanazar III anexou Bit Adini e, em 853, travou batalha contra os exércitos de Hamat, Aram, Fenícia e Israel. Embora a batalha terminasse sem vencedores, em 838 Salmanazar conseguiu anexar as regiões dominadas pelas tribos no médio Eufrates.

Durante um século prosseguiram as guerras intermitentes entre Israel e Damasco. Em 740 a.C. o assírio Tiglate Pileser III capturou Arpad, o centro da resistência araméia na Síria setentrional, derrotou Samaria em 734 e Damasco em 732. A destruição de Hamat pelo assírio Sargão II, em 720 a.C. pôs fim aos reinos arameus do oeste.

Os arameus instalados junto ao baixo Tigre conseguiram manter a independência por mais tempo. De cerca de 722 a 710 a.C., um caldeu, Merodach-Baladan, governou a Babilônia e resistiu aos ataques assírios. Na luta violenta que se seguiu à sua morte os assírios deportaram cerca de 210.000 arameus e, em 689 a.C., arrasaram a Babilônia. Os caldeus, porém, não se submeteram: reconstruíram a Babilônia e em breve a luta se reacendia. Em 626 a.C. um general caldeu, Nebopolassar, proclamou-se rei da Babilônia e uniu-se aos medas e citas para derrotar a Assíria. No novo império babilônico ou caldeu, os arameus, caldeus e babilônios mesclaram-se, tornando-se indistinguíveis.

Língua

Sua língua se espalhou para os povos vizinhos. Eles sobreviveram a queda de Ninive (612 aC) e a Babilônia (539 aC) e continuou a ser a língua oficial do império Persa (538-331 aC).




O aramaico, língua semítica falada pelos arameus, aproxima-se do hebraico e do fenício, mas apresenta semelhanças com o árabe. Adotava o alfabeto fenício e sua inscrição mais antiga foi encontrada em um altar do século X ou IX a.C. Na Síria descobriram-se muitas inscrições que datam dos séculos IX e VIII a.C., quando se empregava o aramaico para fins religiosos ou oficiais. Por volta do século VIII já existiam dialetos, mas uma forma geral, amplamente utilizada pelas pessoas instruídas, era aceita pelos próprios assírios quase como uma segunda língua oficial. As deportações em massa promovidas pelos assírios e o uso do aramaico como língua franca pelos mercadores babilônicos serviram para difundi-lo. No período neobabilônio, seu uso era geral na Mesopotâmia. Durante o império persa, do século VI ao século IV a.C., o "aramaico imperial" era oficialmente empregado do Egito à Índia.

Alguns livros do Velho Testamento, como os de Daniel e de Esdras, foram redigidos em aramaico. Na Palestina, essa continuou a ser a língua comum do povo, com o hebraico reservado a assuntos religiosos ou governamentais e usado pelas classes elevadas. O aramaico era a língua falada por Jesus e pelos apóstolos, e traduções em aramaico circulavam com a Bíblia hebraica.

Além de preservar-se na vida cotidiana em algumas aldeias isoladas perto de Damasco, no sudeste da Turquia e na margem leste do lago Urmia (Irã), o aramaico continua a ser usado pelos cristãos sírios orientais, e é também recitado em trechos da liturgia judaica.

Povo ameaçado
Cristãos que falam a língua de Jesus e vivem na Turquia enfrentam o risco de extinção

O povo arameu e o aramaico, a língua que era falada por Jesus e os apóstolos, estão ameaçados de extinção. Os arameus são descendentes de tribos nômades da Antiguidade que povoaram a Mesopotâmia. O aramaico, idioma próximo do hebraico, foi predominante na região alguns séculos antes e depois de Cristo. Há livros do Velho Testamento redigidos em aramaico. O que hoje ameaça os arameus é o meio hostil onde vivem, uma terra árida e quente na fronteira da Turquia com a Síria e o Iraque. Ali eles são pouco mais de 2 mil, um povo cristão que tenta preservar sua cultura e língua imerso num mundo essencialmente islâmico. Já a diáspora aramaica, por força da necessidade que têm os imigrantes de se adaptar ao país que os acolheu, perde progressivamente seus laços com o passado. O número de arameus e seus descendentes espalhados pelo mundo é desconhecido (só na Alemanha, são 45 mil).

Atualmente, o perigo mais direto para a sobrevivência dos arameus é o conflito entre a guerrilha curda e o Exército turco. Os curdos, minoria com ambições nacionais, vivem mais ou menos na mesma área em que estão os arameus. Pego no fogo cruzado, esse povo é vítima tanto dos guerrilheiros quanto dos soldados turcos. A região, na fronteira já mencionada, é chamada pelos diáconos e monges aramaicos locais, seguidores da Igreja Ortodoxa síria, de Tur Abdin. Significa "monte dos servos de Deus". Lá não se lê a Bíblia sem medo. A qualquer momento podem aparecer agentes do serviço secreto turco, que confiscam os livros sagrados. Diversas vezes os monges de Mor Gabriel, principal mosteiro de Tur Abdin, erguido há 1.600 anos, tiveram de enterrar os manuscritos antigos, escritos na língua de Jesus, para evitar pilhagens.

As mensagens de paz dos textos bíblicos não têm eco numa região onde a guerra é a única mensagem. Que o diga o arcebispo de Tur Abdin, Timotheus Samuel Aktas, um homem de barba branca e olhos tristes que tem denunciado, em vão, o isolamento e as perseguições que ameaçam seu povo. Para Aktas, os arameus não sobreviverão sem ajuda externa. "Somos seus pais, os primeiros cristãos, nos ajudem", pediu recentemente o bispo em entrevista à revista alemã Focus. "Não temos nenhum político para nos apoiar."

A palavra "sobrevivente" descreve de modo preciso a História dos arameus. A araméia Marika Keco, de 90 anos, ainda se lembra do massacre de 1915, o grande trauma de seu povo neste século. Ela e outros anciãos de Tur Abdin ainda contam os horrores que presenciaram ou que lhes foram narrados por seus parentes: arameus enterrados vivos ou decapitados e mulheres grávidas evisceradas. Durante a Primeira Guerra, informam historiadores ocidentais, os turcos e os curdos, à época ainda unidos, massacraram pelo menos 10 mil arameus e 100 mil armênios. Os turcos prometeram entregar aos curdos nômades as terras dos arameus. Bastava que fizessem uma faxina étnica. Até hoje a Turquia e os curdos negam o massacre.

Como milhares de arameus, Marika Keco buscou refúgio, nos tempos sangrentos de 1915, em Ayinvert, aldeia situada em território turco, mas com forte presença curda. Há outra aldeia, chamada Midin, 25 quilômetros a sudeste, onde 250 arameus lutam desesperadamente para preservar costumes e tradições. É o padre, por exemplo, quem administra a Justiça. O castigo para roubo ou infidelidade é o jejum ou doações a famílias mais pobres. Os pais arranjam os casamentos dos filhos, que devem ser virgens.

Há um lago perto da aldeia, e tropas turcas aquarteladas numa de suas margens. Os militares não incomodam os camponeses, mas nunca mexeram uma palha para esclarecer alguns crimes que têm assustado os arameus. A história que todos repetem é a de Ladho Barinc, de 30 anos. Em 1994, quando ia visitar sua mulher, internada num hospital de Midyat, uma das maiores cidades da região, foi seqüestrado por desconhecidos e mantido em cativeiro durante seis meses. Seus captores o acorrentaram e surraram diversas vezes. Exigiam que se convertesse ao islamismo e só o libertaram mediante pagamento de resgate de US$ 5 mil. Solto, Barinc decidiu servir a Deus e a seu povo e hoje ensina arameu às crianças de Midin.

Os líderes arameus locais também tentam combater a emigração. Mas é difícil. No mosteiro de Mor Gabriel, a meio caminho entre Ayinvert e Midin, só há dois monges para ajudar o bispo Timotheus Aktas. Um está velho e doente, e o outro, jovem e inexperiente, não pode se encarregar de tarefas importantes. Já as 14 monjas ficaram. Elas cozinham e cuidam da limpeza do mosteiro, além de acompanhar os 28 alunos que vivem como internos. São rapazes de aldeias araméias que dificilmente seriam aceitos nas escolas turcas da região.

A primeira onda emigratória, neste século, ocorreu a partir de 1915 - eram arameus apavorados com o massacre. Mais recentemente, nos anos 60 e início dos 70, os arameus voltaram a buscar a Europa atrás dos empregos então oferecidos a imigrantes. No início, estranharam os costumes ocidentais, mas aos poucos se integraram, dedicando-se sobretudo ao comércio. Não é, contudo, uma integração total. Os pais insistem em ensinar aos filhos as tradições e a língua. Todos se orgulham do passado, mas as novas gerações quase não entendem mais o significado dos hinos cantados em festas ou cerimônias religiosas.

Muitos arameus na Europa ainda sonham com a paisagem e as imagens de Tur Abdin, que guardam na memória, mas fingem não perceber como é frágil a situação daqueles que ficaram - justamente os responsáveis pela manutenção da identidade aramaica.

Schlomo, a saudação comum entre os arameus, significa paz, mas isso eles ainda não encontraram.

Fontes: Aramaico Brasil / Revista época / Portal EmDiv

7 comentários:

Unknown disse...

Exce;ente post com o assunto sobre o povo arameu muito bem coberto. Parabéns.

Unknown disse...

A onu Deveria ajudar este povo

Unknown disse...

! onde esta a ONU e os estados unidos quando não precisa eles estão no meio façam alguma coisa
4 de janeiro 2017 22:30

Mariano Marques disse...

Texto excelente sobre os arameus e sua língua, o aramaico. Parabéns para o autor. E obrigado por ter postado.

Unknown disse...

A onu??
Nunca, a única religião que a ONU irá apoiar é a que Adora o anticristo, a besta e o falso profeta..

Ane Amaral disse...

Verdade!

Emilia Gonçalves disse...

Minha filha, portuguesa-suiça, vai casar no outono com um arameu, ele foi com os pais quando tinha 5 anos, do Libano, onde nasceu para a Alemanha, Frankfurt. Ele integrou-se bem na Alemanha, "hoje é professor" visto ter ido quando criança, mas seus pais nunca aprenderam bem o alemão.