terça-feira, 20 de julho de 2010

A morte segundos os etruscos

Um dos povos italianos mais misteriosos de que se tem notícia, cuja maioria das informações obtidas não vem das ruínas de suas cidades-Estado, mas sim de seus túmulos e arte funerária




A parte central da Itália é uma das mais procuradas pelos arqueólogos. Isso porque foi lá que, entre os anos 700 e 400 a.C., floresceu a civilização etrusca, que logo ganharia a alcunha de "povo misterioso". Também ficaram conhecidos por terem uma certa obsessão com a morte, já que a maioria do que conhecemos hoje sobre eles veio principalmente de seus túmulos.

O mistério ao redor desse povo também se agravou com a crença de que sua língua era peculiar e ilegível. Na verdade pode ser lida, mas de uma maneira bastante limitada. Isso significa que grande parte do que se sabe vem de escritos de seus inimigos.

A Etruria, nome da região por eles habitada, equivale à moderna Toscana. Lá havia cidades-Estado independentes baseadas em 12 lugares, como Tarquinia e Cerveteri, ambas partes da comuna italiana da região do Lácio, província de Roma. Essas regiões formavam a Liga Etrusca, uma espécie de confederação.

Não se sabe muito sobre essas cidades, mas as escavações arqueológicas provaram que eram bem fortificadas e em geral ficavam em posições elevadas como no topo de colinas. Com o tempo, a área de influência desse povo se expandiu consideravelmente, o que lhes concedeu bons contatos internacionais, em especial com os povos do Mediterrâneo, como os gregos, além dos egípcios e muitos outros. Um ponto que é debatido até hoje é sua verdadeira origem, mas as pesquisas mais recentes parecem indicar que sua civilização era local e não herança de imigrantes.


Detalhe do Sarcófago dos Esposos, entre 520 e 510 a.C.

O curioso é que os arqueólogos resolveram se concentrar nos cemitérios e praticamente relegaram as cidades para segundo plano. Não é para menos, uma vez que lá foram encontrados muitos objetos feitos de metais preciosos e outros materiais exóticos. Também foram encontrados por lá vasos gregos em tons vermelho e preto, que haviam em vários túmulos. Durante a década de 1830, foram descobertos cerca de 3.400 unidades, recuperadas nesses locais durante um único ano. No século XIX, esses itens terminaram em muitos museus europeus, que estavam nos estágios iniciais de desenvolvimento de seus acervos.

Os Cemitérios

Tais sítios de pesquisa são considerados como um bom ponto de partida para se desvendar os mistérios etruscos. Sabe-se por eles que sua sociedade era fortemente de cunho hierárquico, com uma aristocracia ou classe superior, cujo status refletia nas práticas funerárias. As tumbas desses homens tiveram diferentes formas com o passar do tempo, de formato circular a fileiras de edifícios retangulares. As câmeras de túmulos circulares no cemitério de Cerveteri foram originalmente cavadas em tufa vulcânica, uma rocha de densidade mole, e cobertas com montes de terra. Possuem em média 39,62 metros de diâmetro.

Numa tumba, conhecida como Túmulo dos Alívios (Tomba dei Rilievi) há cenas que representam uma sala de banquetes com objetos como copos "pendendo" das paredes. Ela possui também uma série de descansos (completos com almofadas), também escavados na rocha. Os corpos dos mortos eram colocados lá.

Muitos túmulos são belamente decorados com pinturas de parede. Esses afrescos comemoram os prazeres da vida de uma maneira que parece curiosa quando associada à morte, um dos fatores que levam à curiosidade natural em cima dos etruscos. Já foi sugerido que essas cenas representariam banquetes funerários, embora alguns aleguem que isso poderia ser um sinal de que aquele povo via o além-vida como um banquete.


Parede do Túmulo dos leopardos, na Tarquínia.

O Túmulo dos Leopardos (Tomba dei Leopardi,) na Tarquínia, possui cenas ainda mais belas, com os convidados reclinados enquanto os comes e bebes são servidos e dançarinos se movem em todos os cantos da câmara. É possível notar um músico tocando uma flauta dupla, um instrumento que aparece em diferentes túmulos.

Competições e Mulheres

Além dos banquetes, é comum encontrar também cenas de competições esportivas. No Túmulo dos Augures (Tomba Dei Augures), também na Tarquínia, pode-se ver dois homens engajados numa luta. Ao lado está uma pilha de vasos de metal, possivelmente o prêmio, e numa ponta há um juiz que observa a contenda. Novamente os arqueólogos acreditam que se trata da representação de uma cerimônia em honra ao falecido, neste caso, jogos funerários.

Uma curiosidade em relação a esse povo parece estar no papel da mulher em sua sociedade. Elas parecem ter conquistado uma posição liberal quando comparadas com as gregas ou romanas. Em certos afrescos, como no Túmulo dos Leopardos, são mostradas jantando com os homens, algo simplesmente não aceitável no mundo grego. As esposas pareciam também desfrutar da mesma posição que seus maridos a julgar pelos sarcófagos encontrados nos túmulos.

Como método para lidar com os mortos, parece haver uma predileção clara pela cremação em alguns períodos. Os restos incinerados eram enterrados nos Columbaria, nichos escavados na rocha. Os enterros tiveram grande impacto na posterior interpretação desse povo e seus sarcófagos, feito de terracota, foram um fator importante. São considerados, até hoje, como exemplos belos da arte funerária mundial, cujas tampas eram reproduções dos corpos que guardavam, alguns de um alto nível de realismo. E com o passar do tempo essas esculturas ficaram cada vez mais realistas, o que prova que aquele povo tinha um interesse nas pessoas como indivíduos a ponto de muitas tampas de sarcófagos parecerem mais retratos do que uma representação idealizada do morto.

.:: Leituras da História


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► Ritos fúnebres, na Judéia

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