sexta-feira, 2 de abril de 2010

Os Homens Sábios da Sociedade Celta

Caracterizados por filmes e histórias em quadrinhos como uma espécie antiga de magos, os druidas são muito mais do que simples sacerdotes. Neste artigo, conheceremos o papel dos vates, mais detalhes sobre a tradição druídica e um pouco sobre o misterioso homem chamado Merlin




Todos, com certeza, já ouviram falar de bardos ou dos próprios druidas, que a esta altura do campeonato dispensam apresentações. Porém, poucos ouviram falar dos vates, a terceira classe que pertencia à casta desta antiga sociedade. Esses membros eram versados em adivinhação e medicina, dominavam a escrita (ao contrário dos bardos) e sabiam interpretar os sinais que a natureza lhes enviava. Segundo alguns relatos, eram capazes de diagnosticar doenças apenas ao observar a fumaça que saía da chaminé da casa de seu paciente.

Os vates (também conhecidos como ovates) eram jovens estudantes, no primeiro nível da formação de um druida. Ao contrário dos druidas e dos bardos, tinham sua própria cor de vestimenta, o verde, que segundo a tradição druídica é a cor que mais traz à lembrança os tenros anos da juventude. Eles centravam seus conhecimentos nos poderes de observação, analisando e observando os efeitos que a natureza exercia sobre a vida e a matéria. Assim, pode-se concluir que eram estudantes de ciências naturais.

Os vates também eram escritores de prosa e compositores. De acordo com o historiador, geógrafo e filósofo grego Estrabão (63 a.C. ou 64 a.C. cerca 24 d.C), os vates eram "intérpretes dos sacrifícios e filósofos naturais. As suas artes divinatórias também eram bem conhecidas, assim como o fato de serem responsáveis pelo calendário de 'Coligy', que era descrito como um meio de previsão solar/lunar".

Merlin

A sociedade celta considerava os druidas como pessoas que possuíam laços estreitos com o poder. Enquanto a autoridade do rei era concedida numa base que possuía uma origem divina (mesmo quando os soberanos eram politeístas), a autoridade do druida era essencial também para aprovar os suseranos. Que o diga o rei Arthur, que, na maioria das versões da lenda, necessita da aprovação de Merlin para assumir o cargo de rei da Inglaterra.

Também é desnecessário dizer que a figura de Merlin impregnou de tal modo os relatos de contos e lendas na Idade Média que, por muito tempo, o mago e o druida se tornaram um só. Mas quem era essa figura tão influente na vida real?

Essa é uma pergunta que os pesquisadores tentam responder até hoje. Para muitos, o mago seria mesmo um último druida que teria exercido seu poder na Grã-Bretanha já invadida pelo pensamento cristão, que foi descrito por este último como um filho de uma freira com um íncubo. Mas há aqueles que preferem ver em Merlin uma alegoria de outras figuras históricas.
Uma delas seria a do encantador, uma classe de eremitas que viveu na floresta de Broceliande, na Bretanha. Eram ao mesmo tempo profetas, bardos e curandeiros. Essa seria a base para a criação de Merlin, que foi depois adaptada pelo escritor Robert de Boron no século XII. Segundo ele, o mago é filho de uma virgem violentada pelo Diabo e que adquire esse conhecimento ainda pequeno, decidindo-se por usá-lo para o serviço de Deus.

Seja como for, o mago de Arthur é um exemplo do quanto a figura do druida ficou presa à imaginação medieval. Não importa se ele foi uma pessoa real ou não.

Desmistificações

Embora sejam frequentemente associados aos celtas, muitos pesquisadores afirmam que é um erro associá-los somente com aquele povo. Um site de druidismo na Internet afirma que "dissociar os celtas dos druidas é o mesmo que dissociar os pajés dos índios nativos de nossas terras. Ou, grosso modo, dissociar os padres do catolicismo".

Isso vem de um ponto de partida simples: nem toda tribo celta possuía um druida ou mesmo seguia o druidismo como religião. A maioria das tribos que se localizavam em regiões como as da Gália, Grã-Bretanha e Irlanda com certeza possuíam druidas.

Importante é ressaltar que as versões modernas não possuem necessariamente etnias celtas, da mesma maneira como não é necessário ser hebreu para seguir o judaísmo.


Ilustração do livro Old England:
A Pictorial Museum, de Charles Knight.

Uma outra desmistificação importante é a de que os druidas eram monoteístas. Esse é considerado um erro absurdo originado de desinformações difundidas pelo chamado mesodruidismo, um período intermediário entre o druidismo clássico (que era praticado pelos celtas entre 600 a.C. até mais ou menos o século X d.C.) e o druidismo praticado hoje, também chamado de neodruidismo. Segundo o site Druidismo Brasil:

"Se houve ou há algum druida monoteísta, certamente ele nasceu depois do século XIX e esteve ou está professando a religião de forma equivocada, influenciado pelo poder do cristianismo. Os druidas clássicos pré-cristãos eram politeístas e, como todo sacerdote pagão, veneravam os espíritos da Natureza, deuses tribais, deuses da paisagem e os ancestrais. O druidismo moderno, ou neodruidismo, é igualmente politeísta, pois se baseia nas crenças dos druidas clássicos e não nos druidas do Renascimento do século XIX".

O ponto mais polêmico com certeza vai fazer muita gente se sentir enganado: os druidas não construíram Stonehenge. Embora os neodruidas frequentem o lugar até hoje e insistam que lá é o lugar de determinados rituais, não há nada do ponto de vista histórico que confirme que o famoso círculo de pedras foi erguido por essa casta sacerdotal.
A data mais aproximada para a construção de Stonehenge é tida como sendo em 2000 a.C., muito tempo antes dos celtas terem sequer chegado às ilhas britânicas, fato que somente ocorreu por volta do ano 700 a.C.. Esse resultado foi obtido por meio de análises de datação por Carbono 14, e até antes disso era costume atribuir o Stonehenge aos druidas. Sobre isso, o site Druidismo afirma:

"No entanto, não existe a menor chance dele ser um monumento druida, ainda que podemos deduzir que os druidas realizavam cerimônias em Stonehenge ao descobrirem seu alinhamento com o nascer do sol no Solstício de Inverno".

Isso está de acordo com a maneira como se descreve que os druidas faziam seus sacrifícios. A palavra evoca no mínimo cenas sangrentas com miolos e tripas para todos os lados e uma imagem de druidas com suas vestes tingidas de vermelho. Porém, vamos ver que a cena se torna menos violenta quando enxergada com olhos clínicos. Segundo pesquisadores britânicos, os celtas acreditavam que fazer sacrifícios apaziguava a ira dos deuses e trazia sua proteção. Contudo, eles não faziam nada nesse sentido e recorriam aos druidas para que isso fosse feito. Estrabão relatou que os gauleses (sim, aqueles mesmos da tribo do Asterix) tinham por costume matar um condenado com um golpe de espada para que os druidas observassem os movimentos do moribundo e, por meio deles, pudessem prever o futuro.

Outro setor em que a presença dos druidas se fazia necessária era na escolha de plantas medicinais. Suas poções eram famosas por conter segredos que até hoje deixam os historiadores com a sensação de que havia um conhecimento natural perdido.

Depois de vermos algumas características dos druidas e de, por fim, alguns dos mitos que envolviam suas pessoas, é fácil falarmos de níveis de poder. Segundo alguns textos irlandeses, havia druidas tão poderosos que podiam "mandar nos elementos". Se isto era verdade, não podemos saber ao certo, mas o fato era que eles presidiam grandes festas religiosas do calendário celta, entre elas a festa de Samain, que celebrava o primeiro dia do ano celta e que corresponde à data de primeiro de novembro. Essa mesma festa foi absorvida pelo cristianismo e transformada no feriado de Todos os Santos. Porém, sua força não fez com que a festividade do dia anterior, o Dia das Bruxas ou Halloween, desaparecesse do gosto popular.

O Druidismo Hoje

O processo de conversão à civilização romana e depois ao cristianismo fez com que a natureza oral de seus ensinamentos não fosse suficiente para garantir a conservação de seus ensinamentos. Desde então, o druidismo se tornou o tema central de apaixonados por certo romantismo literário.

O neodruidismo é a corrente mais recente de adoradores dessa tradição. Remonta até o século XVIII, quando o inglês John Toland fundou em Londres a Ancient Druid Order (Ordem Antiga dos Druidas), que tinha por objetivo transmitir a tradição sacerdotal druídica, que teria sobrevivido com o passar dos séculos.


Druidas em Londres realizam o círculo de
saudação das forças naturais em plena cidade.

Hoje em dia há muitos grupos que se dizem guardiões dessas tradições. Para analisar o assunto, o site Druidismo postou o seguinte comentário:

"Certamente as práticas do druidismo moderno são muito diferentes das dos druidas históricos, pois vivemos em outros tempos, com outras necessidades. Essa é uma das vantagens de uma tradição oral. Ao contrário de religiões que têm como base textos sagrados imutáveis, o druidismo não fica limitado a escrituras ou leis, mas sabe evoluir com o passar dos séculos, sendo sempre algo novo, significativo e capaz de satisfazer os anseios de quem segue este caminho. No druidismo não há espaço para o radicalismo, não há espaço para interpretações diferentes de um mesmo conceito (como acontece entre as diversas correntes cristãs e islâmicas, por exemplo, em que cada uma tenta impôr a sua versão, a sua interpretação dos textos sagrados). Os textos sagrados do druidismo são os mesmo há milhares de anos, mas eles evoluem, porque não foram escritos: os 'textos' sagrados do druidismo são o passar das estações do ano, são os ritmos da Natureza, as marés, as flores, as tempestades, as trilhas do Sol e da Lua através do firmamento. É um texto 'interativo', que não deve ser memorizado ou entendido, mas sim sentido no fundo de nossas almas".

.:: Leituras da História


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Leis Germânicas
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Libéria: um sonho americano
No século 19, os Estados Unidos tentaram
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